As mulheres são as mais afetadas pelos problemas de acesso à água. Entretanto, elas estão presentes em menor proporção nos órgãos que fazem a gestão dos recursos hídricos. É o que conclui uma tese de doutorado defendida no Programa de Pós-graduação em Administração da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), elaborada na perspectiva do feminismo decolonial ‒ vertente voltada para questões que afetam mulheres dos países do sul global, como as latino-americanas.
“Os impactos da falta de saneamento básico, da falta de água encanada, vão recair sobre as mulheres que, no final das contas, acabam precisando resolver esses problemas no cotidiano. Seja caminhando para coletar água, ou, quando não há saneamento básico, elas têm que ficar mais próximas do esgoto e lidar com essa realidade”, relata a autora da tese, Thaís Zimovski.
Ela explica que a democratização do acesso à água poderia contribuir para a redução da desigualdade de gênero, na medida em que muitas meninas e mulheres, especialmente negras e indígenas, deixam de frequentar a escola, por exemplo, para se dedicar a atividades como coletar e armazenar água.
A pesquisadora analisou a participação feminina no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, que conta com 56 conselheiros, entre titulares e suplentes, dos quais apenas 13, o equivalente a 27%, são mulheres. Ela acompanhou reuniões do grupo, transmitidas pela plataforma Youtube e entrevistou individualmente mulheres integrantes do comitê. Os relatos revelam que, embora tenham representatividade e espaço de fala, muitas vezes suas exposições têm menor legitimidade que as dos homens.
“Por exemplo, a mulher acabou de dar uma sugestão e ninguém comentou. Em seguida, um homem faz a mesma sugestão com palavras mais técnicas. Às vezes, uma pessoa que, inclusive, tem uma conexão com a produção do conhecimento, que é especialista, tem mestrado ou doutorado, vai falar com outras palavras, e as pessoas têm outra recepção dessa ideia. Essa sugestão tem mais legitimidade”, observa a pesquisadora.
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Fonte: UFMG.br