Como os trabalhadores e trabalhadoras dos serviços de água, esgoto e meio ambiente, que lutam contra a sanha privatista de governos como o de Jair Bolsonaro e João Doria, os eletricitários e eletricitárias de todo o Brasil travam importante batalha contra a venda da Eletrobras, maior empresa de energia da América Latina.
O Portal Sintaema conversou com o dirigente Victor Frota, diretor do Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (STIU-DF) e dirigente da CTB, que falou sobre a luta em defesa da estatal em Brasília, alertou sobre quem vai pagar a conta com a privatização e os motivos que movem a categoria a lutar contra o projeto de desmonte do patrimônio público liderado, hoje, por Jair Bolsonaro.
“Nossa luta é para que o Brasil não seja tomado por essa lógica privatista, pois as consequências serão de apagões e tarifaços para toda a população do Brasil. Isso sem falar que qualquer aumento na conta de luz impacta diretamente no setor produtivo, o que pode dificultar qualquer ensaio de retomada de crescimento”, alertou o dirigente.
Frota também listou para nós os motivos que levaram a categoria a deflagra a greve: “o avanço da precarização, o não pagamento das PLR’s 2018 e 2021, a categoria é contra o aumento abusivo do plano de saúde, e a luta por melhores condições de trabalho (contra as escalas abusivas, contra a diminuição do valor diárias de viagem, contra a ausência do teste covid na empresa).
Confira a entrevista:
1 – Não é de hoje que os eletricitários e eletricitárias lutam contra a privatização da Eletrobras. Como estão se organizando nesta etapa da luta agora para barrar o projeto de desmonte da estatal?
Victor Frota: Nossa luta em defesa da Eletrobras vem de longe. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso lutamos contra a privatização, lá naquela época perdemos as usinas da Eletrosul. Desde a instalação do governo de Michel Temer estamos mobilizados e vigilantes contra a venda desse importante patrimônio. E de lá para cá alcançamos algumas vitórias, mas a Eletrobras nunca saiu da mira do governo.
Agora nesta reta final do governo Jair Bolsonaro e com a aprovação uma Medida Provisória que abre caminho para o desmonte da estatal, nossa luta se dá em diferentes frentes. Primeiro, no Tribunal de Contas da União (TCU), lá conseguimos barrar diversos processos em andamento que colocavam em risco a empresa; na Justiça, sobretudo no Supremo Tribunal Federal (STF), para denunciar o caráter nefasto da proposta deste governo e como ele vai prejudicar a população; e a luta junto à sociedade, que será a maior prejudicada. Seja pela piora e encarecimento do serviço, seja pelo impacto sobre o setor produtivo, visto que energia é um insumo estratégico para o desenvolvimento de qualquer país.
Também há uma luta forte no Congresso Nacional. E além do apoio dos parlamentares de esquerda e do campo popular, estamos recebendo apoio, inclusive, dos parlamentares de centro-direita. Esse conjunto de movimentos se soma à mobilização que nossa categoria realiza junto com o movimento sindical e os movimentos sociais. E seguiremos firmes para garantir a defesa da maior empresa de energia elétrica da América Latina.
2 – Quais os principais impactos da venda da Eletrobras para os trabalhadores e trabalhadoras e para a população em geral?
Victor Frota: São diversas as consequências caso a privatização se efetive nas empresas de geração e transmissão do grupo Eletrobras. Aqui listo a perda da Soberania Nacional, o perigo de insegurança energética, a perda da gestão das águas dos lagos dos reservatórios das Usinas Hidrelétricas de Energia (UHEs), a perda das políticas públicas implementadas por essas empresas, que são focadas no desenvolvimento e, por fim, o aumento da tarifa de energia elétrica, que vai impactar os mais vulneráveis.
3 – A Eletrobras é um setor estratégico para nossa soberania nacional. Mas, há quem ainda não entenda isso. Como vocês atuam para mudar essa realidade?
Victor Frota: Bom. Diversas pesquisas mostram que a maioria dos brasileiros e brasileiras não concordam com a privatização de uma estatal de setor tão estratégico e de serviço essencial como é o setor elétrico. Mas, também é fato que ainda exista um percentual que não tem esse entendimento da importância de se ter soberania energética.
O Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) coordena a Campanha Nacional em Defesa da Eletrobras Pública: “Salve a Energia”. Temos mostrado a sociedade em geral, os exemplos concretos recentes de privatização das companhias de distribuição de energia elétrica estaduais como Distrito Federal (DF), Goiás (GO), Alagoas (AL), Piauí (PI), Amazonas (AM), Acre (AC), Roraima (RR) e Rondônia (RO). Quais foram os impactos para essas populações? O serviço piorou e ficou mais caro.
Quando se vende uma companhia de energia elétrica responsável pela prestação de serviço essencial, a conta de luz aumenta muito e o serviço piora. Vale lembrar que a companhia de energia do DF, a Companhia Energética de Brasília (CEB) foi privatizada há um ano e de lá para cá os apagões têm sido frequentes com demora para a religação do sistema devido ao reduzido quadro de funcionários na empresa para manutenção. Ou seja, a conta aqui para prestação de serviço é o lucro e não o interesse público e acesso a um direito.
Além disso, todos os moradores do DF estão pagando uma conta de luz caríssima após a privatização. E diante de exemplos como esse, nossa luta é para que o Brasil não seja tomado por essa lógica, pois as consequências serão de apagões e tarifaços para toda a população do Brasil. Isso sem falar que qualquer aumento na conta de luz impacta nos consumidores residenciais, comerciais e industriais, refletindo de forma negativa diretamente na economia do país.
4 – Desde a sua fundação, a CTB sempre esteve na linha de frente das principais lutas em defesa de direitos e de um projeto de desenvolvimento que garanta distribuição de renda e emprego digno. 2022 sinaliza como um ano central para diversos setores. Como isso impacta na luta da classe trabalhadora?
Victor Frota: A CTB tem ajudado demais nas lutas sindicais ao longo de sua existência, inclusive na luta contra a privatização da Eletrobras e de outras estatais. Nossa greve faz parte desta luta e a categoria exige o fim da precarização, cobra o pagamento das PLR’s 2018 e 2021, é contra o aumento abusivo do plano de saúde, e luta por melhores condições de trabalho (contra as escalas abusivas, contra a diminuição do valor diárias de viagem, contra a ausência do teste covid na empresa).
Por isso tudo, será fundamental nesse ano eleitoral para ajudar a impedir a venda do patrimônio público e o desmonte do serviço público, lutar por políticas públicas que tenham como horizonte um projeto nacional de desenvolvimento que garanta direitos, renda e empregos dignos para a classe trabalhadora. Um projeto que barre a atual dinâmica de sofrimento causada por essa política econômica ultraliberal que tem destruído a vida dos brasileiros e brasileiras nos últimos 3 anos. Sem falar que essa crise ainda foi agravada pela omissão e o negacionismo no combate à pandemia. O ano de 2022 será central para a classe trabalhadora, para o conjunto da população. Chegou a hora de devolver a esperança ao nosso povo.