Eles estão na linha de frente neste período de pandemia. Eles não deixam faltar água nas torneiras e cuidam do saneamento básico. Eles monitoram a qualidade do ar que respiramos, a balneabilidade das águas, fiscalizam e multam empresas que não cumprem os licenciamentos e agridem o meio ambiente. Eles cuidam das nascentes dos parques estaduais e protegem a fauna e flora combatendo caçadores e garimpos ilegais.
Eles não deixam que falte energia elétrica nos lares. Eles não deixam que o cidadão fique sem transporte público sobre trilhos.
Estamos falando dos companheiros e companheiras da Sabesp, CETESB, Fundação Florestal, eletricitários e metroviários, trabalhadores que vêm prestando um vital serviço à sociedade nesta fase de pandemia, inclusive colocando suas próprias vidas em risco para que a população não seja prejudicada mais ainda, além do risco de contágio da covid-19.
Com ou sem pandemia, eles são essenciais!
Para debater sobre a situação e demandas dessas categorias o Sintaema promoveu uma live na tarde de ontem (26), com o presidente do Sintaema, José Faggian, o presidente do Sindicato dos Eletricitários, o Chicão, e o coordenador Geral dos Metroviários, Wagner Fajardo, com mediação do diretor do Sintaema, Anderson Guahy.
Todos os representantes foram unânimes na premissa de que os serviços essenciais ficaram ainda mais em evidência nesta pandemia devido à importância que todos têm para que a população consiga o mínimo de tranquilidade e acesso aos serviços básicos para enfrentar a covid-19.
Como estão se dando os serviços com a pandemia, a relação com o governo, o olhar da população sobre essas categorias, os problemas enfrentados e outras questões foram abordadas na live.
Saneamento e meio ambiente: a responsabilidade dos trabalhadores da Sabesp, CETESB e Fundação Florestal
“Os serviços essenciais por si só já são muito importantes, e agora na pandemia ganham um caráter ainda mais evidente em criar a situação de bem estar social”, disse Faggian.
O presidente do Sintaema colocou o papel dos trabalhadores e das instituições da categoria perante a população e lamentou a falta de consciência de muitos que não se dão conta disso, o quanto estes serviços têm grande demanda e atendem á sociedade como um todo.
Faggian citou e repudiou a fala do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, que expôs total desprezo com o setor ao afirmar que neste momento de foco da imprensa na pandemia seria o ideal para deixar “passar a boiada”, referindo-se a afrouxar leis de proteção ambiental entregar tudo ao capital.
No Estado, Faggian falou do descaso do governo estadual com a CETESB e Fundação Florestal.
“A Fundação e a CETESB são empecilhos para o governo do ponto de vista do capital porque não geram lucros, o governo não olha para a fundamental importância na defesa dos parques estaduais, da fiscalização ambiental e licenciamento de empresas. É uma luta que estamos travando contra este sucateamento”, disse. Faggian também lembrou e lamentou a morte do guarda ambiental terceirizado morto por invasores dias atrás em dos parques protegidos pela Fundação.
Na Sabesp o olhar tem outro viés: o privatista. A empresa dá lucros, e vem de longa data a luta do Sintaema contra esta entrega. As mais recentes batalhas, de dois anos para cá, a categoria e entidades do setor conseguiram derrubar duas medidas provisórias, e agora a luta segue no Senado contra o PL 4162/19.
“Há argumentos mentirosos de que a iniciativa privada não tem acesso ao setor de saneamento que precisa de mais investimentos. É uma falácia, o setor privado já participa, e 90% do investimento vem do poder público e com mais qualidade”.
Faggian também contextualizou a situação, na qual desde 2016 o país está diante de um projeto nacional de estado mínimo, de privatização, de entrega das riquezas brasileiras, de narrativas constantes e crescentes que criminalizam o funcionalismo público. A pandemia evidencia a necessidade e importância dos serviços públicos serem mais valorizados.
“Tratar a água, afastar o esgoto, proteger mananciais, fiscalizar o ar, proteger os parques com suas nascentes, tudo isso continua sendo realizado na ponta pelos trabalhadores da categoria para o bem estar da população, e neste momento de pandemia, mais do que nunca”, enfatizou Faggian.
A luta dos companheiros metroviários na pandemia
“Nosso serviço é essencial à vida da população, o transporte é essencial, principalmente para o trabalho, para o estudo, para o lazer, é o direito de ir e vir, e em sistema justo e democrático deveria inclusive ser gratuito para que todos tenham esse direito”, disse Wagner Fajardo, coordenador Geral dos Metroviários.
A essencialidade dos serviços dos metroviários foi enfatizado por Fajardo neste momento de pandemia inclusive para os trabalhadores essenciais que dependem do transporte público, principalmente os profissionais da saúde por conta da pandemia, além de todos os demais que estão trabalhando em mercados, farmácias e outros serviços.
“Precisamos de um plano de emergência para proteger nossos trabalhadores também, existe uma grande preocupação com eles”.
Segundo Fajardo, há muito tempo o sindicato reivindica o aumento do quadro de trabalhadores e denuncia a terceirização em massa, inclusive em bilheterias de grandes estações para não fazer contratações e baratear o serviço.
Ele expôs que há cinco anos o Metrô não contrata, já saiu muita gente por conta de aposentadorias e programas de demissão voluntária e agora durante a pandemia houve redução significativa por conta do isolamento, com trabalhadores em home Office ou afastados, portanto há o acúmulo de atividades, falta gente para trabalhar.
Fajardo criticou o megarodízio que, segundo ele, não teve nenhum efeito positivo, ao contrário, sequer garantiu que os trabalhadores de serviços essenciais pudessem locomover-se com seus carros, não houve planejamento e metroviários foram até multados. O sindicato foi contra o rodízio.
“Foi um absurdo, muitos trabalhadores que dependeram do transporte público se contaminaram e isso aumentou o contágio. Deveriam garantir que o trabalhador tenha comida para ficar em casa e proibir de funcionar as empresas que não eram essenciais, e não aconteceu isso”.
Companheiros eletricitários garantindo energia para a população
“A pandemia veio para evidenciar o que nós já sabíamos, a nossa essencialidade, ela está no DNA, essa vontade de ver o povo sendo atendido e vendo que nosso trabalho trouxe alegria às pessoas”, declarou com orgulho o presidente do Sindicato dos eletricitários, Eduardo Annunciato, o Chicão.
Chicão questionou: “como fazer funcionar um respirador sem energia elétrica, fazer uma limpeza sem água ou levar trabalhadores sem transporte público? São serviços essenciais, e agora na pandemia, o que também ficou evidente é a falta de atenção e investimentos nestes setores”.
Segundo Chicão, o trabalho está triplicado agora, há equipes de revezamento em áreas sensíveis para que não falte energia, e que o serviço está bem pesado, há pessoas com depressão porque há muita pressão no setor elétrico, porém os trabalhadores continuam firmes em suas funções. “Somos essenciais, vamos continuar fazendo isso, além dos perigos existe também a necessidade pública”.
Porém há empresas se aproveitando dessa situação de crise para suspender contratos e assim economizar, justamente no momento em que todos mais precisam dos serviços. Segundo Chicão, na Emae e em Furnas o sindicato teve que tomar medidas judiciais para evitar o estresse de uma greve neste período crítico e a responsabilidade dos trabalhadores na pandemia.
Nas grandes empresas do setor tem bastante trabalhadores fazendo o home office e operando em turnos de revezamento e atendimento, já nas empresas terceirizadas os trabalhadores sofrem mais com suspensão de contratos e perdas de direitos e conquistas, de acordo com Chicão.
Perguntado sobre o que mudaria se metade da categoria não pudesse trabalhar, Chicão informou que mesmo com 48 mil companheiros na base entre geração, transmissão e distribuição de energia, que são serviços distintos do mesmo grupo de trabalhadores, a situação ficaria muito difícil e poderia faltar energia.
“Profissionais não são substituídos de um dia para o outro, e há uma blindagem desses trabalhadores para evitar uma catástrofe, temos muito cuidado nas escalas para proteger os trabalhadores”.
Qual ensinamento que esta pandemia deixa na importância desses trabalhadores para a população, e a pergunta que não cala: será que os patrões estão valorizando esses essenciais companheiros?
Saneamento e Meio Ambiente
Segundo Faggian, uma das primeiras medidas do governo foi emitir ofício proibindo empresas estatais de fazer negociações em torno dos acordos, este foi o tratamento dado aos trabalhadores. Por meio de muita conversa o sindicato garantiu a manutenção dos acordos sem qualquer retirada de direitos e conquistas.
“O governo é privatista e o tratamento será o mesmo e acredito que até mais difícil por conta da baixa arrecadação, não nos iludimos, a luta continuará”.
Quanto à população, Faggian lamentou a narrativa em curso que vem destruindo a figura do servidor público passando a sensação de que o servidor é ineficiente, e que, portanto é preciso mostrar a importância dos trabalhadores essenciais que estão dando conta do trabalho e ajudando mais do que nunca neste momento de pandemia.
“Infelizmente estamos no pior país do mundo nesta pandemia, diferentemente de outros países no Brasil temos um governo negacionista e que está matando a população, estamos sendo trucidados. O isolamento é a única solução para vencer a pandemia e retomar a economia, mas neste governo os seres humanos têm que ser moídos na máquina para que a economia sobreviva”, finalizou Faggian.
Metroviários
“Aos olhos do governo, quando interessa somos funcionários públicos, quando não convém, não somos”, disse Fajardo.
A proposta do Metrô, segundo Fajardo, foi de reajuste zero, nenhum reajuste nos benefícios, retirada de adicionais e diminuição da contribuição da empresa no plano de saúde, entre outros. A categoria negou negociar tal proposta indecente.
“Tratar desse jeito esses trabalhadores durante uma pandemia? O governo precisa conversar conosco e respeitar nossos direitos. Vamos fazer nossa campanha salarial unificada”, concluiu.
Eletricitários
“Queremos o bem do trabalhador e da população, mas sem chantagens do patrão, como cidadãos nós temos consciência da gravidade do momento. Temos que combater a privatização que coloca vidas em risco, imagine se tivessem privatizado o SUS teria morrido muito mais gente. Depois que privatizaram a energia as contas aumentaram.
Portanto, economia e saúde pública são importantes, mas sem vida não há economia. A vida em primeiro lugar. Fique em casa, finalizou Chicão.
Trabalhadores essenciais contra o coronavírus e juntos na luta por mais valorização!