As projeções divulgadas pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) acendem um sinal vermelho para o abastecimento de água na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).
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Com 39 municípios e mais de 20 milhões de habitantes, a RMSP depende fortemente do Sistema Cantareira — que segue em situação delicada, operando na faixa de “Restrição”, com cerca de 21% do volume útil.
Chuvas fracas e irregulares: a raiz do problema imediato
De acordo com o Cemaden, entre abril e setembro as chuvas ficaram muito abaixo da média, e mesmo outubro — já na estação úmida — não trouxe a recuperação esperada. A entrada de água nos rios que alimentam os reservatórios varia entre apenas 40% e 55% da média histórica, inviabilizando qualquer retomada consistente dos níveis.
O relatório também classifica a condição hidrológica atual como uma seca de intensidade entre moderada e extrema, dependendo da escala analisada.
Projeções preocupantes para os próximos meses
Mesmo em um cenário otimista, com chuvas dentro da média, o Cantareira deve encerrar dezembro com cerca de 32% do volume útil — entrando na faixa de “Alerta”, ainda longe de qualquer segurança.
Nos cenários mais desfavoráveis — chuvas entre 25% e 50% abaixo do normal — o sistema pode permanecer em “Restrição” ou caminhar para a faixa “Emergencial”.
Para o primeiro trimestre de 2026, a diferença entre os cenários é enorme:
- Chuvas na média → recuperação até aproximadamente 60%
- Chuvas muito abaixo da média → queda para próximo de 18%
O fenômeno La Niña, que tende a reduzir as chuvas no Sudeste, torna ainda mais provável uma recuperação lenta e frágil.
Outros sistemas também preocupam
Mesmo com as obras estruturais realizadas nos últimos anos pela Sabesp, o alerta permanece: o Sistema Integrado Metropolitano — que reúne todos os reservatórios da Grande São Paulo — registra hoje o menor volume útil desde o fim da crise hídrica de 2014–2016.
Sintaema: água é direito, planejamento é obrigação
Para o Sintaema, o relatório do Cemaden confirma o que o Sindicato vem denunciando há anos: a crise hídrica em São Paulo não é — e nunca foi — apenas uma questão de chuva.
O problema é a falta de políticas públicas sérias, de planejamento de curto, médio e longo prazo e de um governo estadual que conhece, há décadas, os desafios hídricos do estado, mas insiste em não enfrentá-los.
Some-se a isso:
- a ausência de políticas robustas de preservação dos mananciais;
- o enfraquecimento dos órgãos ambientais e da gestão pública da água;
- cortes de orçamento promovidos pelo governo Tarcísio de Freitas;
- e a aposta em privatizações, como a da Sabesp, que fragilizam ainda mais um sistema já pressionado.
Não se enfrenta uma crise hídrica desmontando o que protege a água — nem entregando o saneamento ao lucro privado.
Atenção máxima
Mesmo com o retorno das chuvas, a recuperação será lenta e incerta. O Cantareira segue em situação frágil, e qualquer déficit adicional pode tornar o abastecimento da RMSP ainda mais vulnerável.
O Sintaema reforça: é fundamental manter o uso racional da água, acompanhar a evolução do quadro hidrológico — e, sobretudo, cobrar do governo o planejamento que ele não faz.
Água é direito. Proteger esse direito é dever do Estado — e compromisso do Sintaema.








