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13 de maio | 134 anos de luta contra o racismo e seus patrocinadores

Por João Raimundo Mendonça de Souza*

Hoje, sexta-feira, 13 de maio, é dia de lembrar das lutas contra a escravidão e denunciar o racismo que ainda tem muita força em nossa sociedade.

No 13 de maio de 1988 a princesa Isabel, pressionada por vários movimentos abolicionista, assinou a lei áurea, encerrando o que restava de escravidão no Brasil. A oligarquia paulista, que dominava a economia por força do café fez vários movimentos para evitar que a lei fosse aprovada e no limite se isso acontecesse queriam do Estado o retorno financeiro da perda dos escravos.

Foi nessa disputa que a escravidão acabou – sem nenhuma política compensatória ou algum nível de distribuição de terras que garantisse aos negros libertos buscar o seu sustento. Foram jogados à sorte e muitos sequer conseguiram sair das fazendas onde eram escravos.

Em 15 de novembro de 1889 a elite paulista que resistiu ao fim da escravidão assume o comando do país com o advento da república, após o golpe do Marechal Deodoro. Incorporam uma bandeira progressista de colocar fim à monarquia, mas tutelam o Estado brasileiro a serviço das oligarquias, principalmente paulista, num arranjo onde o povo brasileiro passava longe.

Aos negros restou um tratamento de invisibilidade e perseguição policial, com base em leis como a da vadiagem, elaborada para criminalizar e prender quem não tivesse trabalhando. Mesmo personagens negros que tiveram destaque no império foram desprovidos de sua identidade racial e tratados como personagens sem cor.

O Brasil racista da oligarquia paulista, pautados pela visão eugenista da época, se colocou na tarefa de embranquecer o país, investindo no processo de imigração, relegando aos negros a condição de pária. A revolução de 1930 de algum modo impôs uma derrota às oligarquias no poder e criou estruturas e instituições que deram ao país um sentido orgânico, deixando de ser uma extensão das fazendas da elite.

Trouxe consigo também a valorização do trabalho, importante movimento para criar uma identidade descolada das relações familiares que media a importância das pessoas – isso ainda é comum em algumas regiões do Brasil, mas perdeu força nos centros urbanos. Ser pedreiro, metalúrgico, marceneiro, professor, etc, passou a ser mais significativo do que ser da família A, B, C.

Mas mesmo a revolução de 1930 não foi capaz de mudar esse quadro racial no Brasil. Aliás ela não pautou isso. Era um momento em que grande parte da população ainda era do campo e não foi capaz de propor reformas que valorizasse o trabalho e o trabalhador do campo e fazer a reforma agrária.

Essa é uma situação que se perpetuou no Brasil. As lutas e as resistências dos trabalhadores e dos negros não foram capazes de romper com essa política de invisibilidade ao longo dos anos. A marca do que é bonito, do que é competente, do que é inteligente, da família perfeita, do que pode consumir, foi construída em cima da mulher e do homem branco.

Essa visibilidade positiva era contrastada com a imagem do negro marginalizado, pobre, feio e de família desajustada. Só para se ter uma ideia da dimensão disso, só em meados dos anos noventa se mostrou pela primeira vez na TV uma família negra numa novela, uma protagonista negra só teve espaço há 15 anos.

Grande Otelo, o grande personagem negro do cinema, nunca teve um papel que fosse apresentado com família e mesmo com conexões pessoais, sua aparição sempre estava relacionada com o personagem pitoresco que não tinha lastro.

A política de embranquecimento do Brasil fracassou e a de apagar a identidade negra também. Mas o impacto desse racismo estrutural construído ao longo dos anos deixou sequelas que exigem mudanças estruturais profundas na nossa sociedade.

Discutimos hoje, graças às lutas do movimento negro, políticas de inclusão que tem dado mais visibilidade para os negros. Em particular no Brasil a partir dos anos 2000 há um segmento da elite que tem interesses mercadológicos e comprou a luta contra o racismo, ainda no limite de mesclar negros em espaços antes reservados para brancos.

Essa política afirmativa tem contribuído para contrapor a imagem desajustada que foi criada do negro. Na mídia, na política, e mesmo e outras posições de destaque é possível ver mais negros. Nesse 13 de maio precisamos refletir sobre o racismo. A lógica racista que permeou o Brasil da escravatura e da invisibilidade negra continua. Basta ver os discursos e as ações do governo Bolsonaro.

Essa é uma luta permanente. Também não podemos nos iludir com espaços pontuais numa sociedade onde os negros são a maioria dos desempregados, os que ganham menores salários, moram nos lugares sem infraestrutura, sofrem com a violência da criminalidade, incluindo aí as milícias e do Estado através da força policial. A situação é ainda pior para as mulheres, que tem que enfrentar o racismo e o machismo.

O Brasil precisa ser reconstruído para seu povo. Não tem como mudar o país sem promover reformas estruturais que mexam com a estrutura das cidades e do campo, a melhora das condições de vida e trabalho, garantir empregos e salários dignos no campo e na cidade.

* Dirigente da Unegro Campinas e STU Unicamp

Fonte: Portal CTB