Moradores e movimentos ambientais de Perus, na zona norte de São Paulo, estão se mobilizando contra o projeto de instalação de um incinerador de lixo no antigo Aterro dos Bandeirantes, localizado ao lado da Terra Indígena Jaraguá e do Refúgio de Vida Silvestre Anhanguera, uma das últimas áreas de Mata Atlântica preservadas na capital.
A proposta, chamada oficialmente de Unidade de Recuperação Energética (URE) Bandeirantes, é apresentada pela gestão de Ricardo Nunes (MDB) como uma solução “moderna” para o tratamento dos resíduos da cidade. Na prática, o projeto reproduz uma política de desmonte ambiental e social, alinhada ao modelo defendido por Tarcísio de Freitas (Republicanos) no governo estadual — que privilegia parcerias com grandes empresas e concessões privadas, em detrimento da participação popular e da proteção do meio ambiente.
Para a população de Perus, trata-se de mais um ataque à periferia e à justiça ambiental, com riscos diretos à saúde e à qualidade de vida de quem mora na região. O movimento “Incinerador de Lixo em Perus, não!” denuncia que o processo está sendo conduzido sem consulta pública, contrariando princípios básicos de transparência e controle social. “Eles estão fazendo esse processo debaixo dos panos, sem dialogar com a população”, alerta a direção do Sintaema, que apoia a luta da população.
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) elaborado pela concessionária Loga, responsável pelo projeto, revela que o incinerador queimará mil toneladas de resíduos por dia, gerando 200 toneladas de cinzas tóxicas. Mesmo com filtros, o processo libera óxidos de nitrogênio (NOx) e outras partículas poluentes, associadas a doenças respiratórias e até câncer. Além disso, o projeto prevê derrubada de árvores e aumento da poluição sonora na região.
Em entrevista ao Portal Metrópole, Sirlei Bertolini Soares, engenheira e integrante do Conselho Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Cades), o projeto é um retrocesso: “A população de Perus espera que esse espaço se transforme em um grande parque, conectado ao Parque Anhanguera, e não num polo de poluição. Incinerar lixo é regredir em termos de política ambiental.”
O Sintaema se solidariza com a luta dos moradores de Perus e denuncia que o incinerador faz parte de uma cartilha maior de desmonte conduzida por Ricardo Nunes e apoiada por Tarcísio de Freitas, marcada pela privatização de serviços públicos, ataque aos direitos ambientais e desprezo pela participação popular.
O sindicato defende que o caminho sustentável para São Paulo passa por redução de resíduos, fortalecimento da coleta seletiva, compostagem e apoio às cooperativas de catadoras e catadores, e não pela queima de lixo que ameaça o meio ambiente e a saúde da população.
O projeto segue em análise na Cetesb, e o Sintaema reitera: nenhuma licença ambiental deve ser concedida sem ampla escuta e participação da comunidade. Justiça ambiental é também direito do povo e do trabalhador.








