O 20 de novembro é marcado pelo Dia da Consciência Negra no Brasil, quando é lembrada a data em que foi assassinado, em 1695, o líder Zumbi, do Quilombo dos Palmares, um dos principais símbolos da resistência da luta dos negros e negras do Brasil contra a opressão e o racismo.
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Mesmo com a luta vinda de longe, há ainda muito desafios para serem vencidos, entre eles, entender que a história sempre é contada pelos vencedores e que eles, em sua esmagadora maioria, são homens brancos. Por isso, nesta 20 de novembro o debate sobre a importância de se garantir o letramento racial é reforçado.
Mas, o que significa letramento racial? E por que ele é importante?
Ele relaciona um conjunto de práticas que contribui para a desconstrução de formas de pensar e agir naturalizadas na relação entre pessoas negras e brancas. Ou seja, ele é parte essencial para uma educação antirracista e para romper com costumes, narrativas e falácias construídas ainda no período colonial. O conceito foi utilizado pela primeira vez pela socióloga afro-americana France Winddance Twine, em 2003. No Brasil, o racial literacy foi traduzido para o português pela psicóloga Lia Vainer Schucman.
Vale lembrar que o letramento – o uso competente de leitura e escrita nas práticas sociais – está ligado às relações estabelecidas entre os cidadãos que convivem em sociedade. Pensando nesse sentido, o que a linguagem tem a ver com o racismo?
Desde o período colonial, sobretudo com o processo de escravização de povos indígenas e africanos, criou-se uma restrição ao acesso dessa parcela da população à educação, ao mercado de trabalho e ao território. A sociedade brasileira também se apropriou dessa lógica.
“Através da linguagem, você replica esse processo estrutural e reforça a superioridade de um grupo em detrimento de outro. Dessa forma, a sociedade vai moldando padrões estéticos e culturais, bem como o próprio entendimento de cidadania”, explica Juarez Tadeu de Paula Xavier, doutor em Comunicação e Cultura e professor de Jornalismo da Unesp, em entrevista à Revista Com Ciência.
Para o pesquisador, entender o que foi a colonização e a escravização de povos livres é um ponto de partida para entender os problemas sociais que vivemos hoje. Segundo ele, é preciso recontar a história do Brasil e escancarar o grande estelionato histórico que sempre foi apresentado a gerações.
Afinal, afirma o pesquisador, basta folhear os livros de história para perceber a negação da participação negra na construção do país, o ocultamento da produção de conhecimento (artes, agricultura, ciência, etc) por parte da população negra. Além disso, ele lembra que há uma grande parcela da sociedade que é produto de uma educação racista, que naturaliza a perversidade da desigualdade racial existente em nosso país, por desconhecer completamente a participação de negras e negros na história do Brasil.
E é juntamente para esse segmento que o letramento racial se faz absolutamente indispensável, porque a solução para o racismo no Brasil não é e nem deve ser um problema somente para os negros, mas é sim um problema pra toda a sociedade brasileira.
Com informações do Alma Preta e da Revista Com Ciência