Amigo, não se engane! O verdadeiro mar de lama é o capitalismo. Não pode haver honestidade enquanto houver patrão e empregado. Não pode haver felicidade enquanto uns comem, outros não. Não pode haver civilização enquanto houver fronteiras. Nesta hora em que o navio abandona seus ratos, em que sonhos e esperanças são surrupiados, entenda, meu amigo, que isso é o capitalismo. Sangue e violência são o combustível do capitalismo. Dê uma olhada ao redor, eis as favelas, mira o que acontece no Iraque. O capitalismo é perverso, seja qual for sua coloração. Na China, um tiro na nuca e comércio de órgãos. Na Rússia, máfia e miséria. O capitalismo é racista! Veja o que acontece em Israel. Muros são erguidos para segregar semitas. E, para você que crê, o capitalismo é inimigo de Deus! Se a César o que é de César, o que Deus faz na moeda que rege o mundo? O capitalismo é tão cruel que criou o operário padrão, exemplo de serviçal que depois de mastigado é escarrado para longe. E agora temos o presidente padrão, aquele que ensina a pescar onde não há peixes. O capitalismo representa todas as misérias que os humanos têm a baixeza de ambicionar. No capitalismo, a miséria entra pela porta, a virtude sai pela janela. Amigo, não perca a esperança! O capitalismo está agonizante! Ele é como o fogo que devora a si mesmo quando nada mais encontra para devorar. Pergunte aos desempregados. Milhões aqui e na Alemanha, na Itália e no Japão, na Inglaterra e na França! E na Nova Orleans americana o mar de lama serve para sustentar cadáveres. Amigo! Você nada tem a temer, a não ser o estado letárgico em que se encontra. Lembre-se: águia de bico Atômico tem asas de barro! Agora é com você! *Georges Bourdoukan é escritor e jornalista. Texto reproduzido da edição 103 da Revista Caros Amigos.