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A falta de água e a imprensa

A falta de água em São Paulo já atinge graus extremos, colocando em risco a própria saúde pública. Mesmo assim, a midiazona paulista não faz alarde sobre esta tragédia. A omissão é um verdadeiro estelionato eleitoral, mais um crime da velha imprensa. Ela visa livrar a cara do governador reeleito Geraldo Alckmin, do PSDB e, em especial, do cambaleante Aécio Neves.A Folha tucana publicou dia 12 uma notinha, bem minúscula, informando que as torneiras já secaram até nos restaurantes de Pinheiros, bairro nobre da capital paulista.

Se a midiazona fosse menos partidarizada e seletiva, os relatos da falta de água já teriam resultado em manchetes nos jornalões e em críticas nos telejornais. Na semana passada, a própria presidenta da Companhia de Saneamento Básico (Sabesp), Dilma Pena, admitiu pela primeira vez que “existe, existe sim, falta de água”. Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal, ela confessou que o problema decorre da queda dos reservatórios do Sistema Cantareira, que abastece 8,8 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. Ela só fez essa confissão três dias após a votação do primeiro turno, em mais prova do estelionato eleitoral que enganou tantos paulistas. Numa afronta à inteligência dos paulistas, a presidenta da Sabesp ainda tentou justificar a tragédia. Ela disse que “não existe racionamento, mas a administração da disponibilidade de água”. Ela “tucanou” a falta a falta de água e garantiu que o problema é pontual. Pesquisa Datafolha realizada em agosto, mas que teve pouco destaque nos jornalões e nas emissoras de rádio e tevê, evidenciou que a crise no setor não tem nada de “pontual”: 46% dos entrevistados relataram ao menos um corte de água nos 30 dias anteriores; em maio, 35% dos paulistas já tinham denunciado problemas. 

A presidenta da Sabesp havia sido convocada para depor na CPI em setembro. Mas fugiu para evitar respingos, sem água nas eleições. A mídia tucana, que adora promover a escandalização da política – mas sempre de forma seletiva – não fez qualquer pressão sobre o governo Alckmin. Da mesma forma, ela segue evitando dar destaque ao assunto. Possivelmente, só vai tratar do tema com mais responsabilidade, tentando se apresentar como neutra, após os segundo turno das eleições presidenciais.

E ainda tem gente que acredita na midiazona. É preciso ser muito tapado!

Altamiro Borges.
Texto reproduzido do Jornal Brasil de Fato, edição 607, outubro/2014.