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Sabesp, EMAE e a teia de interesses do capital para abocanhar um bem universal

A recente compra da Emae pela Sabesp escancara uma verdade incômoda: no mundo das privatizações, o que está em jogo não é eficiência nem melhoria de serviços — é a disputa por ativos públicos transformados em instrumentos de especulação financeira.

Por trás do anúncio aparentemente técnico de uma “aquisição estratégica”, há uma teia de conflitos de interesse, manobras de bastidores e apostas bilionárias em torno de empresas que, até pouco tempo atrás, pertenciam ao povo e cumpriam um papel social fundamental para São Paulo.

O caso começa com a privatização da Emae, em 2024, arrematada pelo fundo Phoenix, ligado ao empresário Nelson Tanure. Um ano depois, a operação desmorona, com ações despencando, dívidas não pagas e credores executando garantias — abrindo caminho para que a Sabesp, recém-privatizada, entre no jogo.

A ligação com a crise da Ambipar, empresa de gestão de resíduos também envolvida no esquema, revela a engrenagem típica da lógica privada movida pela “sanha do lucro”: papéis supervalorizados artificialmente, debêntures dadas como garantia, acionistas cruzando participações e o patrimônio público sendo usado como moeda para operações financeiras arriscadas.

Nada disso tem relação com saneamento, com água, com o direito da população. Trata-se de uma dança entre fundos de investimento, bancos e grandes acionistas — todos interessados em transformar empresas estratégicas em ativos negociáveis.

Enquanto o povo paga a conta, o capital joga com a água como se fosse ação de bolsa.

A compra da Emae pela Sabesp privatizada mostra como o ciclo se retroalimenta: primeiro, o Estado entrega o patrimônio público; depois, as empresas privadas se reorganizam em torno de novas oportunidades de lucro, independentemente da utilidade social do serviço. O resultado é um mercado concentrado, opaco e repleto de conflitos de interesse.

O Sintaema reafirma sua posição: a água é um direito, não um ativo. O saneamento é um serviço público, não uma aposta de mercado. A crise da Ambipar e o imbróglio da Emae mostram o que acontece quando se entrega o patrimônio público à lógica da especulação: perde o povo, ganha o lucro.

Com informações do Portal Exame