A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – Rio de Janeiro manifesta seu repúdio ao Jornal O Globo pela reportagem de capa do último domingo (18/08), intitulada “Estatais de Água e Esgoto gastam mais com salários do que com a expansão da rede”. A matéria, em caráter de denúncia, na verdade pode facilmente ser considerada como um lobby em defesa das propostas de privatização que avançam na Câmara dos Deputados e, em especial, no Governo do Estado do Rio de Janeiro.
A matéria acusa as empresas públicas da área do Saneamento tiveram um aumento de gastos com pessoal e redução dos investimentos, dando a entender que é por essa razão que o Saneamento ainda não é uma realidade universal para nossa população e induzindo o leitor a acreditar na solução privada. A reportagem, no entanto, omite que a tendência mundial é justamente a inversa. Berlim e outras 265 cidades passaram por processo de estatização recente das suas empresas de saneamento. As razões, em geral, são os serviços inflacionados, ineficientes e com investimentos insuficientes.
Além disso, os números apresentados pela matéria devem ser questionados. Hoje, a CEDAE, por exemplo, é uma das empresas mais superavitárias do Estado do Rio de Janeiro, com lucro superior a R$ 1 Bilhão. Esse lucro é suficiente para a argumentação de que a empresa não reduz seus investimentos por serem estatais, mas sim por uma má gestão e por um governo que não tem em seu foco uma política pública de universalização da água e do saneamento básico.
Mesmo sem uma política de governo eficaz, os investimentos escondidos pela reportagem aparecem quando procurados. Atualmente, a Cedae fatura cerca de R$ 4,5 bilhões por ano e é totalmente independente de recursos do Tesouro. O maior investimento da empresa, na Baixada Fluminense, está em conclusão de sua primeira fase, cujo custo foi de cerca de R$ 1,1 bilhão. Apenas esta parte das obras já garantirá o atendimento pleno de 90 por cento dos moradores da região. A segunda fase, de duplicação da produção de água em Guandu, de cerca de R$ 1,7 bilhão está sendo licitada. A última fase com complementos em redes e reservatórios será licitada no próximo ano com custo de R$ 700 milhões.
O Suposto gasto elevado com pessoal também é desmentido pelo balanço da empresa. Enquanto o jornal denuncia um suposto gasto maior com pessoal do que com investimentos, encontramos no balanço da empresa um valor de investimentos (R$ 5.336.160) como sendo mais que o dobro do valor com gasto de pessoal (R$ 2.135.538). Sendo, O GLOBO, um jornal com sede e maior circulação no Rio de Janeiro, é grave a maneira como a matéria tenta induzir o leitor à crer numa ineficiência na gestão da estatal.
Por fim, declaramos acreditar que essa matéira não foi vinculada à toa. O jornal se presta ao papel de lobista dos empresários privados da área do Saneamento que, como abutres, buscam a aprovação de um nefasto Marco Legal do Saneamento no Congresso Nacional e tentam, a todo custo, forçar a privatização da CEDAE no Rio de Janeiro.
A CTB-RJ defende a gestão pública do saneamento. Na nossa compreensão, somente o estado pode universalizar o saneamento no Brasil, e, em especial no Rio de Janeiro. O governador do Estado tem que cumprir com sua palavra pois ele disse em campanha eleitoral que não ia privatizar a Cedae. Num estado como o Rio de Janeiro, assolado pelo desemprego é imperativo que seja através de um amplo leque de obras públicas na área de saneamento que seja buscada a tão desejada universalização ao mesmo tempo que essas obras possibilitem a geração de milhares de postos de trabalho.
Não à privatização da água. Não à privatização da Cedae. A CTB-RJ está junto na luta com a direção do Sintsama na defesa da Cedae Publica, estatal e indivisível.
Rio de Janeiro, 19 de Agosto de 2019
Paulo Sérgio Farias
Presidente da CTB RJ