Por Elaine Tavares, no blog Palavras Insurgentes:
Ouvi de um amigo agora pela manhã, falando sobre a marcha do dia 15, chamada pela direita brasileira: “Eu já não sei mais o que é esquerda, o que é direita”. Eis aí um grande nó para a compreensão da realidade. Acreditar que não há mais diferenças na forma de pensar e agir sobre o mundo é cair numa armadilha de alienação. Sempre foram muito claros os conceitos de direita e esquerda. Ser de direita é apostar na conservação dos privilégios de poucos, é a postura da maioria dos mais ricos, por exemplo. Eles querem seguir controlando as riquezas do país, para delas tirarem proveito, querem dominar o espaço político, querem manter os mais pobres sob controle. Já ser de esquerda é lutar contra isso, garantindo participação para todos, direitos respeitados, o fim da opressão.
Pode parecer meio simplista explicar as coisas assim, mas de fato a coisa é mesmo simples. A sociedade está dividida em classes sociais. Uma, controla a produção e a outra vende seus serviços. Uma domina, outra é explorada. E é justamente sobre a exploração de uma classe que a outra garante seus lucros e sua vida boa. No meio desse processo as pessoas vivem uma sistemática batalha. Os que são explorados querem uma vida melhor, e os que exploram procuram não permitir que isso ocorra. Quando muito abrem mão de coisas pequenas, quando a luta se acirra, apenas para tentar acomodar as coisas. Mas, no fundo, segue apostando na manutenção dos privilégios.
A confusão sobre o que é ser esquerda e direita, em parte, foi provocada pelo próprio Partido dos Trabalhadores, hoje no poder político. Forjando toda a sua construção em pautas da esquerda, o partido chegou ao governo e passou a ceder passo aos velhos grupos da tradicional direita. Tudo isso dentro da chamada tentativa de governabilidade. Dilma, por exemplo, agora , nesse segundo mandato chegou ao cúmulo de entregar setores estratégicos como as finanças, a agricultura e a educação para figuras carimbadas da direita nacional. Difícil então não ficar confuso.
O fato é que esses malabarismo de governabilidade só alimentam o monstro. A elite brasileira é insaciável. Não lhe basta ter os setores estratégicos na mão. Ela quer tudo. Então, engordados pelo próprio governo, os velhos grupos de poder vão se fortalecendo, chegando ao ponto de pedirem o impedimento e a renúncia da presidente. As razões para isso – aparentemente – são as irregularidades na Petrobras. Argumentos bastante pueris e insustentáveis. Mas, apesar da fragilidade da consigna, esses grupos tem conseguido aglutinar pessoas que, mesmo no grupo dos explorados, por algum motivo “compram” a proposta da direita. Temos visto gente gritando pela volta do regime militar, argumentando que será só para tirar a Dilma, “depois eles entregam o país”. Para quem? Ah, bom, isso não importa. Há uma completa falta de compreensão histórica. Os tenebrosos anos de regime militar, que tantos horrores causaram nos mais variados países latino-americanos parecem ter sido apagados da memória. Existe uma juventude que tampouco tem noção do que está dizendo quando chama a intervenção militar. É uma ingenuidade muito bem aproveitada pelos marqueteiros do golpe.
Agora, os movimentos sociais, cuja maioria estava adormecida e domesticada,começam, lentamente, a perceber que há uma grande batalha em curso. E procuram uma reação. Por isso estão chamando uma marcha para o dia 13, dois dias antes da marcha da direita. E, assim, o Brasil vai realizar um exercício de manobras nas ruas, expressando claramente os interesses em jogo.
Na marcha do dia 13 estão os sindicatos de luta, os movimentos populares, as entidades de direitos humanos e civis. Estará a esquerda crítica e estarão também os que apoiam Dilma. Porque a pauta da marcha do dia 13 é uma pauta dos trabalhadores. As gentes marcharão em defesa da Petrobras, por reforma agrária, por demarcação de terras indígenas, pela democratização da mídia, pelo combate à corrupção. Será uma mobilização da esquerda, com propostas que visam a melhoria da vida de todos os brasileiros, especialmente dos empobrecidos e dos que têm apenas a sua força de trabalho para vender.
Já a marcha do dia 15 é a marcha do golpe, da direita organizada e dos que, mesmo explorados, são seduzidos por um canto de sereia que promete mudanças. Mas, a mudança prometida é da manutenção dos privilégios e dos mesmos velhos grupos de poder. Sem matizes. Participar disso é apoiar o atraso.
Mas, para muitos, a marcha do dia 15 é unicamente o libelo contra a Dilma. Ora, eu também estou contra as políticas implementadas pelo governo Dilma. Mas isso não significa que, por conta disso, vou me aliar ao que há de mais nefasto nesse país. Como bem diz o professor Nildo Ouriques, o projeto petista esgotou. O que igualmente não significa que no seu lugar tenha que ser colocado o outro velho projeto – da direita – que também esgotou. Ou será que as pessoas não se lembram do que FHC causou ao país nos seus dois mandatos? Se hoje, o governo petista se assemelha àquele, qual é a saída? Constituir o novo! Rearticular as forças, combinar projetos de transformação, avançar, ir para frente.
Assim que não é necessário viver em confusão. Os clássicos elementos que diferenciam a direita e esquerda seguem vigentes. Pode-se dar outro nome para isso que alguns insistem em negar, mas o fato é que tudo é muito simples. Ou estamos caminhando junto com os trabalhadores, os explorados, os empobrecidos, ou estamos de mãos dadas com os poderosos, os exploradores, os que sangram a maioria em nome de seus interesses pessoais. Simples assim.
Por isso que nessas horas de acirramento da luta de classes não há espaço para vacilação. Temos de estar com os trabalhadores, ainda que alguns deles sigam tendo ilusões com o governo petista.
Fonte: Blog do Miro