Presentes no encontro, Jaques Wagner e Jean Paul Prates condenam posição de Bolsonaro na Conferência sobre o Clima. “O tempo de promessas já passou. O tempo agora é de ação”, diz o ex-governador da Bahia
No primeiro dia de trabalho da Cop26, a Conferência sobre o Clima das Nações Unidas, realizada em Glasgow, na Escócia, o Brasil passou vergonha por conta da posição do governo Bolsonaro. Embora não tenha comparecido pessoalmente à conferência, Bolsonaro afirmou o Brasil sempre foi parte da solução, não do problema das mudanças climáticas. Mas os ambientalistas pediram aos delegados da Cop26 que não confiem nas promessas de “lavagem verde” do governo brasileiro.
Os senadores Jaques Wagner (PT-BA) e Jean Paul Prates (PT-RN), que estão presentes na reunião da Cop26, reiteraram as críticas ao governo Bolsonaro, acusado de se prometer metas revisadas para redução da emissão de gases de efeito estufa que são um retrocesso aos compromissos anteriores assumidos pelo país.
“Não podemos negar que os compromissos são um passo”, afirma Wagner. “Mas prefiro ter cautela, até que esta mudança se converta em ações concretas, para além de promessas. Com mais dinheiro, com mais investimentos para avançarmos no enfrentamento da crise climática”.
Presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, Jaques Wagner aponta o governo brasileiro precisa sinalizar com algo mais do que promessas. “O tempo de promessas já passou. E passou não só para o Brasil, mas para todo o mundo. O tempo agora é de ação. Precisamos urgentemente de respostas efetivas à crise climática e de esperança para as atuais e futuras gerações”, adverte. “Bolsonaro não é bem-vindo fora do Brasil”, reforça Jean Paul Prates, líder da Minoria no Senado.
O Brasil tem uma das maiores delegações nas negociações climáticas da ONU em Glasgow e financia um luxuoso pavilhão promocional dentro do centro de conferências. Segundo a ministra da Agricultura, Tereza Cristina Dias, e o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Alvaro Pereira Leite, a mensagem é que o Brasil é “um campeão de longa data da agenda ambiental e uma potência agroalimentar”.
Mas muitos ativistas do clima dizem que o mundo deveria prestar mais atenção às políticas destrutivas do passado recente do governo Bolsonaro do que às vagas promessas sobre o futuro, que dizem ter como objetivo garantir dinheiro. A imprensa internacional lembra que Bolsonaro desmantelou as agências de proteção florestal, como o Ibama e ICMBio, e tentou mudar a lei em favor dos fazendeiros e grileiros, além de permitir o garimpo ilegal em territórios indígenas e em áreas de conservação ambiental.
Na cúpula do clima promovida pelo presidente Joe Biden, no início deste ano, Bolsonaro prometeu cumprir a meta estabelecida pelo governo Dilma Rousseff, de parar o desmatamento ilegal até 2030. Mas isso parece ser apenas um compromisso retórico, já que a bancada governista que apoia o presidente no Congresso Nacional está tentando mudar a lei para permitir mais desmatamentos legais e invasões de terras indígenas, que geralmente são os territórios mais bem protegidos.
Os líderes mundiais reunidos na Cop26 prometem assinar nesta terça-feira, 2 de fevereiro, um acordo para reverter o desmatamento global na próxima década, como parte de um pacote multibilionário para combater as emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem. O governo Bolsonaro está entre aqueles que se comprometerão com a declaração.
O presidente do Brasil foi denunciado junto ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, pelo desmatamento em massa, em ação movida por uma ONG AllRise, que pede que Bolsonaro seja responsabilizado criminalmente por um ataque “implacável” à Amazônia que exacerbou a emergência climática e colocou em risco a própria sobrevivência da humanidade. Na representação-feira, juristas e cientistas argumentam que o “desmatamento em massa” sob o governo de extrema-direita representa um perigo ao Brasil e ao mundo.
O desmatamento por humanos é responsável por quase um quarto das emissões de gases de efeito estufa, em grande parte decorrentes da destruição das florestas do mundo para produtos agrícolas como óleo de palma, soja e carne bovina. Em julho, um estudo do INPE mostrou que a Amazônia — historicamente um grande absorvedor de carbono, uma vez que as árvores absorvem dióxido de carbono para liberar oxigênio — agora libera mais carbono do que armazena, o que contribui para a crise climática.
As taxas de desmatamento diminuíram ligeiramente de 2004 a 2012, durante os governos Lula e Dilma, mas, voltaram a subir, nos últimos dois anos, desde que Bolsonaro se tornou presidente do Brasil. Em agosto deste ano, o desmatamento no bioma subiu 7% em relação ao mesmo mês de 2020. Esse foi o 5º mês de 2021 em que o desmatamento bateu recorde desde 2012, segundo o Imazon. Março, abril, maio e julho também estiveram no auge em 10 anos. “Isso tudo é resultado direto da política criminosa de Bolsonaro”, critica Jean Paul Prates.