Na semana em que se comemorou o Dia nacional da Saúde, o Jornal do Sintaema entrevistou a Dra. Vanessa da Costa Santana, médica de família e Comunidade Paliativista para sanar dúvidas e orientar a categoria no combate ao coronavírus.
A médica ressalta o quão é importante que os trabalhadores afastados cumpram a quarentena no isolamento social, e lembra que o isolamento é físico, mas não pode ser psicológico.
Confira a entrevista:
JS – Por que as pessoas com mais de 60 anos ou com doenças crônicas correm mais risco perante o Covid-19?
Dra. Vanessa – Devido à Imunossenescência, que são as disfunções do sistema imunológico relacionadas com a idade, que contribuem para uma maior incidência de doenças infecciosas, em geral, como as gripes comuns e suas complicações, tuberculose, e não apenas a Síndrome do Coronavirus-19. Além da Imunossenescência, os portadores de doenças crônicas, como o diabetes, a asma e o câncer, como exemplos, tendem a ter comprometimentos microcirculatórios e humorais locais, que também dificultam os mecanismos de defesa do corpo.
JS– Qual é a importância dessas pessoas cumprirem à risca o isolamento social?
Dra. Vanessa – Com o isolamento social estas pessoas estão com o risco de exposição aos vírus bem diminuído e, portanto, de contaminação e desenvolvimento de doença.
JS– Quais os procedimentos que a família deve ter com essas pessoas do grupo de risco?
Dra. Vanessa – As famílias devem dar condições para que o isolamento social seja efetivado: garantir o suprimento de alimentos, produtos de higiene e medicamentos necessários. “Proibir” a visita de quaisquer pessoas que mesmo sem quaisquer sintomas, sejam potenciais transmissores do vírus.
Se o idoso ou a pessoa com fator de risco mora com outras pessoas, o ideal é que todas as pessoas do domicílio façam o isolamento social. Lembrando que o isolamento é físico, mas não pode ser psicológico: a pessoa em isolamento total social deve manter a conexão com seus entes queridos, especialmente através dos meios eletrônicos disponíveis.
JS– Mesmo com tantos casos de suspeitas e confirmações de pessoas com o coronavírus, temos visto muitos idosos agindo como se nada estivesse acontecendo, ou seja, saem de casa, muitas vezes sem máscaras. Está tendo uma descrença dessas pessoas em relação ao risco? Qual sua opinião sobre isso?
Dra. Vanessa – Muitos de nós temos crenças que podem, cegamente, prejudicar nosso bom senso, tais como: …”comigo não vai acontecer…”, “tenho muita fé em Deus, e Ele vai me proteger”…”se eu não sair de casa fico louco…”
Na minha experiência com os Cuidados Paliativos e na Medicina, em geral, compreendi que por maior que seja nosso autocuidado e a Nossa Fé, não estamos imunes às doenças graves nem à morte física.
JS– Quais são as suas orientações de cuidados, inclusive os de higiene, para essas pessoas do grupo de risco?
Dra. Vanessa – Reforço sobre a importância do ‘ficar em casa’, que não está sendo fácil para a maioria absoluta das pessoas, mas é um “sacrifício coletivo”. Sugiro:
– Intensificação dos Cuidados com a Saúde: higienização das mãos, com água e sabão, preferencialmente (aumentaram os acidentes por queimaduras com álcool em gel);
-Banho de sol por 30 minutos todos os dias (mesmo em dias nublados há sol – senão seria noite) antes das 10h e após as 16h, em quintais, garagem, varandas. Há estudos mostrando sobre os benefícios da Vitamina D3, produzida pela pele, sob fotoestimulação, no combate aos vírus, especialmente COVID-19;
-Aumentar o consumo de vitamina C (água com limão, acerola, laranjas, mexericas, kiwis, goiabas…), pois são antioxidantes, com efeitos protetores sobre as células e imunidade em geral (aos mais curiosos, vide Linus Pauling);
-Procurar manter um bom ritmo em casa, respeitando os ritmos fisiológicos: período de sono reparador (ter uma boa higiene do sono, evitar excesso de psicoestimulantes, como café, televisores, celulares, excesso de informações…);
-Fazer exercícios físicos por, no mínimo, 30 minutos, diariamente (vale fazer caminhadas regulares dentro da própria casa, subir e descer escada, alongamentos, exercícios com pesos…);
-Fortalecer sua própria espiritualidade, a exemplo de fazer meditação, preces, conectar -se com seu núcleo religioso e, para os ateus, fortalecer medidas que lhe tragam Propósito de Vida/ Conexão/bem-estar, que podem estar relacionadas à Natureza, fazer leituras/estudos, reparos domésticos, trabalhos manuais/artesanais, cuidar das plantas e/ou animais de estimação, culinária, enfim, usar a criatividade para diminuir o sofrimento atual.
Um recado de amor à vida e de reflexão da Dra. Vanessa para a categoria
Eu gostaria de sugerir aos amigos leitores uma reflexão acerca da resiliência, tão bem vivenciada, exemplificada e estudada por Viktor Frankl, psiquiatra austríaco (que, além de prisioneiro em Auschwitz, perdeu seus pais, irmãos e esposa durante o holocausto nazista), autor do livro “Em busca de sentido”:
“Nós podemos descobrir o significado da vida de três maneiras: fazendo alguma coisa, experimentando um valor ou amor, e sofrendo”.
Frankl percebeu, nos campos de concentração, que as pessoas cujo desejo de sobreviver persistia diante das desventuras mais extremas eram aquelas capazes de identificar um sentido que justificasse suas vidas.
A minha pergunta então é a seguinte: Qual o sentido que justifica sua vida?
Se a sua vida vale a pena, cuide -se, da melhor forma possível, e, pelo período necessário, recomendado pelos nossos especialistas (médicos, cientistas, epidemiologistas).
Fique em casa.