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A crise ambiental é a crise do capitalismo: A luta de classes também é ambiental

 

Com conceito de “Obsolescência Programada”, a felicidade, que era plena, acaba por ser momentânea – Reprodução/Documentário “Comprar, tirar, comprar”.

Por Márcio Ackermann*

A destruição do meio ambiente não é fruto de uma ação genérica da “humanidade”, mas sim resultado direto de um sistema econômico violento e predador: o capitalismo. A crise ambiental que se alastra pelo planeta tem nome, endereço e lógica própria — a da acumulação de capital a qualquer custo.

Alinhado a isso, a financeirização da natureza, aliada ao desmonte das políticas públicas, tem não apenas devastado os ecossistemas, mas aprofundado a exploração da classe trabalhadora.

Diante desse cenário, precisamos olhar para além da cortina, superar a ilusão imagética de inclusão e igualdade construída pela tecnologia e se perguntar, de forma sincera, será de fato “o homem o destruidor da natureza?” ou será essa ideia a névoa que esconde um sistema que de fato destrói?

A lupa sobre o n osso cenário mostra que não é “o homem” em si o destruidor do ambiente, pelo contrário, são os interesses de classe de um modelo de sociedade baseado na transformação da natureza em mercadoria e do bem comum em ativo financeiro. Povos originários, como os Yanomami, os povos nativos do Alasca e os aborígenes, seguem sendo exemplos vivos de como é possível conviver com a natureza sem destruí-la.

Já o capitalismo industrial e financeiro, guiado pela lógica do lucro acima da vida, na instantaneidade, avança como um rolo compressor sobre florestas, águas, ar e territórios.

As reformas legais (ambiental), como a municipalização do licenciamento ambiental, o autolicenciamento e a alteração do Código Florestal em 2012 — que retirou proteção de mais de 70 milhões de hectares — são alguns exemplos de como a destruição é institucionalizada pelo Estado para atender aos interesses do agronegócio, da mineração e do capital imobiliário.

O Estado como Cúmplice: Do Licenciamento à Tragédia

Em São Paulo, a privatização da Sabesp, o desmonte da CETESB e a gestão de Ricardo Salles à frente do Ministério do Meio Ambiente são faces distintas da mesma moeda: a captura do Estado pelos interesses privados. O enfraquecimento de órgãos como o Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN), a liberação de projetos por meio de EIA-RIMAs (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental) frágeis e o aparelhamento das agências ambientais compõem um cenário de profunda conivência com o crime socioambiental.

Esse processo tem vítimas concretas: são as famílias soterradas nas encostas desmatadas, os trabalhadores e trabalhadoras que enfrentam enchentes e secas extremas, e as comunidades periféricas que perdem acesso à água limpa e ar puro.

Como mostrou pesquisa da professora da Sueli Angelo Furlan, a redução em 99% das Áreas de Preservação Permanente em topos de morro não é um detalhe técnico — é uma sentença contra os pobres.

Crise ambiental e a luta de Classes: o mesmo terreno de conflito

A crise climática é a face ecológica da luta de classes. São os ricos que emitem mais, consomem mais e lucram com a destruição, enquanto os pobres são os mais afetados por enchentes, deslizamentos, contaminações e perdas.

A política ambiental, nesse contexto, não pode ser tratada como uma pauta “verde”, baseado em discursos aparentes do 3Rs, descolada das contradições de classe e raça. Ela é trincheira da luta por justiça social.

Diante de um projeto de morte que une capital financeiro, grandes empresas e governos cúmplices, a ação sindical se revela vital. E entidades como Sintaema tem cumprido um papel essencial ao denunciar a degradação ambiental promovida pelo Estado, ao mobilizar trabalhadores e trabalhadoras da água e do saneamento, e ao articular estratégias institucionais como o diálogo com a  Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) e a Câmara Municipal de São Paulo, sem falar do entedimento da centralidade da disputa política nas eleições de 2026.

O cenário deixa claro que é hora de avançar ainda mais: fortalecer as alianças com os movimentos populares, denunciar os crimes ambientais com clareza e propor um novo projeto de país — no qual água, floresta, energia e ar não sejam mercadoria, mas bens comuns, sob controle público e popular.

Reafirmamos: A crise ambiental é a crise do capitalismo. Enquanto o mercado seguir ditando as regras, a natureza e a classe trabalhadora continuarão sendo explorados, silenciados e descartados.

Mas há caminhos de resistência. Eles passam pela mobilização popular, pela atuação sindical, pela ciência comprometida com a vida, e pela construção de políticas públicas voltadas para o bem comum.

A luta pela preservação do meio ambiente é a luta pela superação da desigualdade. É a luta pelo direito de viver com dignidade em um planeta que seja de todos — e não de poucos.

*Márcio Ackermann é geógrafo e Perito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais