Os recentes apagões que deixaram milhões de pessoas às escuras na capital e na região metropolitana escancaram, mais uma vez, o preço que a privatização do serviço elétrico impõe à população: perda de renda, risco à saúde, sobrecarga de trabalhadores e falhas graves na prestação de um serviço essencial. Entre 9 e 11 de dezembro de 2025, um ciclone extratropical e ventos fortes provocaram uma nova cascata de quedas de rede — no pico da ocorrência mais de 2 milhões de unidades consumidoras ficaram sem energia, segundo dados oficiais cobrados à concessionária.
Nesta sexta (12), mais de 800 mil pessoas ainda seguem sem energia e, agora sofrem com a ameaça de falta de água.
Os números são claros e contundentes. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) registrou que 2.052.401 unidades consumidoras ficaram sem energia no pico do evento — cerca de 31,8% da área de concessão da Enel Distribuição São Paulo. A própria Enel chegou a informar que 2,2 milhões de clientes foram afetados em momentos do episódio, e agências internacionais reportaram picos de mais de 1,3 milhão a 1,5 milhão de imóveis sem luz conforme a evolução do vendaval.
Prejuízo bilionário
Levantamento da FecomercioSP estimou perdas do comércio e setor de serviços em cerca de R$ 1,54 bilhão devido ao apagão — interrupção de vendas, perda de estoque de supermercados, falhas em caixas e sistemas, além da queda no atendimento em restaurantes e serviços. Para famílias e pequenos comerciantes, esses números representam salários e estoques perdidos em poucas horas.
Além do prejuízo econômico, há risco à vida e aos serviços essenciais. Hospitais e unidades de saúde tiveram atendimentos afetados por falta de energia e falhas em geradores foram reportadas em alguns casos; diversas emergências e consultas foram suspensas ou postergadas. Embora nem sempre exista estatística consolidada imediata ligada diretamente a mortes por falta de energia neste episódio específico, situação similares anteriores mostram que cortes prolongados colocam em risco pacientes dependentes de aparelhos, recém-nascidos e serviços críticos. No episódio atual, unidades como o Hospital São Paulo registraram impacto no funcionamento por causa da queda de energia.
Trabalhadores em risco e sobrecarga — a outra face do apagão
As operações de restabelecimento expuseram também as condições de trabalho que são impostas com a privatização: equipes submetidas a jornadas extenuantes em condições perigosas. Em outubro de 2024, um eletricista da Enel morreu enquanto trabalhava para restabelecer a rede, atingido por galhos de árvore durante serviço de poda — um episódio que simboliza o risco que recai sobre quem repara linhas no calor da emergência. Sindicatos e a Fenatema há tempos denunciam práticas que precarizam a atividade e aumentam o risco de acidentes.
Reclamações e responsabilidades: Aneel e Procon acionam a concessionária
Diante da dimensão do apagão, Aneel cobrou explicações formais da Enel e encaminhou ofícios exigindo justificativas e plano de ação para evitar recorrência, enquanto órgãos de defesa do consumidor e representantes do comércio já apontam para responsabilização e medidas de ressarcimento. Nas redes e canais de reclamação, consumidores relatam danos a eletrodomésticos, perda de alimentos e cobranças indevidas por serviços de reparo em meio ao caos.
Sem energia e sem água
O Sintaema também recebeu diversas denúncias sobre falta de água em diversos pontos da capital. “Sob Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas, São Paulo virou terra sem lei. Os governos trabalham para garantir o lucro dos acionistas da Faria Lima. Enquanto isso, o povo mais vulnerável sobre sem água, energia e acesso à proteção de sua vida”, denuncia a direção do Sintaema.
Privatização e escolha política: quem paga a conta?
Para o Sintaema, os episódios deixam evidente que a privatização transforma direitos básicos — o acesso confiável à energia e ao saneamento— em mercadoria sujeita a falhas comerciais e critérios de lucro. Em vez de investimentos robustos na manutenção preventiva, planejamento urbano integrado (poda de árvores, manutenção de redes – lembrando que Nunes cortou o orçamento da poda de árvores) e na ampliação da resiliência do sistema, a população convive com restaurações lentas, prejuízos e riscos. O argumento de que a gestão privada traria eficiência não se sustenta quando milhões ficam sem luz e a economia local sangra bilhões em horas.

Cortes nos orçamentos, falta de servidores, estrutura e planejamento geram déficit no atendimento e a diferença de resultados entre os bairros.
O que o Sintaema exige agora
— Apuração imediata e pública das causas do apagão e das falhas no processo de restabelecimento; Aneel precisa tornar públicos os relatos e planos de manutenção.
— Fiscalização rigorosa e aplicação de multas proporcionais aos danos e à gravidade do episódio; ressarcimento simplificado para consumidores afetados (comércio, indústrias, serviços e residências).
— Programas de proteção a trabalhadores em restauração da rede: jornada digna, treinamento, equipamento e condições para operar seguros; investigação e responsabilização por acidentes de trabalho.
— Reestatização ou criação de modelo público de controle social e gestão que priorize universalidade, manutenção preventiva, planejamento urbano integrado (poda e proteção de redes) e políticas para reduzir a vulnerabilidade frente a eventos climáticos extremos. (posição pública do sindicato.)
Uma cidade que paga o preço dos cortes não pode aceitar respostas burocráticas. Quando a conta em vidas, renda e segurança é tão alta, a discussão sobre a propriedade e o modelo de gestão dos serviços essenciais deixa de ser abstrata: é política de vida ou morte. O Sintaema seguirá mobilizando os trabalhadores e a população para cobrar transparência, reparação e mudança estrutural imediata.









