O Brasil gera todos os anos cerca de 81 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU). Quase metade desse volume (41%) é simplesmente descartada em lixões, sem qualquer utilidade, contaminando o solo, o ar e a água. O restante é reciclado, transformado em adubo ou destinado a aterros sanitários — locais onde seria possível produzir biogás e energia elétrica limpa e constante.
Hoje, o país tem 147 plantas de biogás, mas pouco mais da metade gera eletricidade. A capacidade atual é de apenas 300 MW, quando seria possível ampliar em ao menos 30%. Pior: os grandes aterros estão abandonando a geração de energia porque não há incentivos ou garantias mínimas de compra dessa eletricidade. Enquanto isso, seguimos importando combustíveis fósseis e concentrando esforços em fontes intermitentes, como a solar e a eólica, sem uma política nacional que integre as diversas formas de geração renovável.
A experiência internacional mostra que é possível outro caminho. A Europa tem mais de 500 unidades de recuperação energética (UREs), a China já tem o dobro. O Brasil, que poderia ser referência no tema, tem apenas uma em construção, em Barueri (SP), com previsão de operação só em 2027.
Esse cenário mostra que não estamos diante de um problema apenas tecnológico, mas de modelo de sociedade. Enquanto a lógica dominante continuar sendo a do lucro imediato, investimentos estratégicos para transformar lixo em energia e reduzir desigualdades socioambientais seguirão em segundo plano. A consequência é um triplo desastre: mais poluição, mais desperdício e mais dependência de modelos de geração de energia centralizados e caros.
Defender o saneamento e a energia pública é lutar por justiça social, justiça ambiental e por um futuro que não repita os erros do presente.
Sintaema: por direitos, por vida e por outro modelo de sociedade.
