A imagem de uma cratera reabrindo no mesmo local, semanas após ser tapada, virou símbolo da tragédia anunciada no saneamento paulista. Mas o buraco na pista central da Marginal Tietê, aberto em abril de 2025, é apenas a face visível de um processo mais profundo: o desmonte da Sabesp, acelerado pela privatização concluída há um ano e pelo projeto de governo de Tarcísio de Freitas, que chega agora ao seu terceiro ano, atuando firme para se manter favorito para 2026, mesmo que isso custe vidas e a saúde da população.
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1. Despejo de esgoto sem tratamento no Tietê: 86 piscinas olímpicas por dia
Para resolver o colapso estrutural do interceptor de esgoto a 18 metros de profundidade, a Sabesp adotou a solução mais barata e mais rápida: esvaziar parte da rede e despejar esgoto bruto diretamente no rio Tietê durante quase dois meses. O volume? Equivalente a 86 piscinas olímpicas de esgoto por dia. Resultado: danos irreversíveis ao processo de despoluição do rio, agravamento das doenças nas comunidades vizinhas e retrocesso ambiental que pode levar anos para ser reparado.
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2. Crise ambiental sem precedentes
Antes mesmo do acidente, o Tietê já vinha sofrendo retrocessos. Em 2024, a SOS Mata Atlântica mostrou que a mancha de poluição aumentou 29%, alcançando 207 km de águas impróprias. Com o esgoto lançado diretamente no rio, estima-se que os níveis de poluição tenham atingido os piores patamares da última década. Moradores dos arredores relatam casos crescentes de doenças, mau cheiro e degradação ambiental.
3. Propaganda para 2026
Desde a entrega da Sabesp ao setor privado, o que se viu foi corte de equipes técnicas, perda de profissionais experientes e piora no atendimento à população. Em paralelo, o governo Tarcísio investe em propaganda: diz que vai investir em cinco anos o que a empresa pública investiu em cinquenta. Mas os dados desmentem: entre 1995 e 2024, a Sabesp investiu R$ 74 bilhões — ou R$ 135 bilhões corrigidos pela inflação.
Para o Sintaema, essa distorção grosseira tem um objetivo claro: legitimar a privatização como vitrine de campanha eleitoral para 2026, enquanto esconde os verdadeiros impactos dessa entrega do saneamento ao mercado financeiro.
Saneamento público, universal e de qualidade, já!
Um ano após a privatização, o que se vê é menos transparência, mais risco ambiental, serviços precarizados e tarifas em alta. O projeto em curso não é de modernização — é de transferência de um serviço essencial à vida para os interesses da Faria Lima, com impacto direto nas populações mais pobres e na soberania hídrica do estado.
O Sintaema segue na luta por um modelo público, socialmente justo e ambientalmente responsável de saneamento. Defender a Sabesp é defender o direito à água e ao esgoto tratados como bem público — e não como mercadoria.