O podcast Ambiente é o Meio desta semana conversa com a ecóloga Julia Shimbo, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), coordenadora científica do Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas).
Uma das autoras do trabalho Desmascarando a impunidade do desmatamento ilegal na Amazônia brasileira: um apelo à fiscalização e responsabilidade, divulgado recentemente, Julia fala sobre o estudo e o desmatamento na Amazônia.
A pesquisa foi realizada através de dados, de 2019 a 2020, do MapBiomas Alerta, um sistema de validação e refinamento de alertas de desmatamento com imagens de alta resolução, e evidenciou que, nos últimos três anos, relata a pesquisadora, houve um aumento no desmatamento na Amazônia. “Inclusive, a gente registrou o maior aumento desde 2016.”
A partir dos dados coletados, Julia conta que o desmatamento está avançando para o interior da floresta e para áreas do Pará e do Amazonas. E, segundo a pesquisadora, esse desmatamento ocorre “tanto dentro de áreas particulares quanto dentro de áreas públicas e em áreas protegidas, onde a gente não deveria ter esse tipo de desmatamento, um desmatamento ilegal”.
No estudo, também foi feito um levantamento de autos de infração, embargos e processos de responsabilização em escala federal, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e estadual, especificamente no Estado de Mato Grosso. O resultado, afirma Julia, mostra que apenas 1,3% dos alertas de desmatamento na Amazônia brasileira tinham “algum auto de infração ou embargos do Ibama para conter o desmatamento ilegal”. Ou seja, explica a pesquisadora, “praticamente 99% dos alertas não têm uma fiscalização feita pelo Ibama” e, continua, “isso representa apenas 6,1% de toda a área desmatada”, considerado um nível extremamente baixo de atividades de fiscalização.
Em escala estadual, 25% dos alertas de desmatamento tiveram alguma ação dos órgãos estaduais, representando “um número seis vezes maior do que a área fiscalizada pelo Ibama”. De acordo com a pesquisadora, 16% da área desmatada detectada no Mato Grasso “correspondia a alguma autorização de desmatamento”, mas 53% do desmatamento ilegal no Estado “continua sem fiscalização e responsabilização”, o que evidencia a importância da fiscalização pelos órgãos estaduais.
Para combater o desmatamento, Julia diz ser preciso ter um controle maior, realizado por meio de programas de fiscalização, monitoramento, criação de áreas protegidas, organização e regularização fundiária. Além disso, diz, “a gente precisa da ação de vários setores da sociedade, considerando os setores público e privado”.