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Especialistas reforçam: “a Engenharia é fundamental para dar as respostas necessárias em acidentes como o da obra do Metrô de SP”

Foto – Divulgação.

Após o acidente que aconteceu na obra do Metrô da Linha 6 Laranja, na manhã do dia 1 de fevereiro, com o rompimento de uma coletora de esgoto da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que causou a abertura da cratera na marginal Tietê, começaram os trabalhos de perícia do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), para investigação do que pode ter ocorrido.

O rompimento do interceptor que coleta esgoto nas proximidades da obra, ocorreu perto da pista local da Marginal Tietê, sentido Rodovia Ayrton Senna, depois da Ponte do Piqueri, na Zona Norte de SP, que fica ao lado de um poço cavado construído entre as futuras estações Santa Marina e Freguesia do Ó. O super túnel da Sabesp foi inaugurado em 2020, dentro do projeto de despoluição do Rio Tietê. Ele coleta dejetos de nove bairros da região central e leva para a estação de tratamento de Barueri, na Grande SP. Imediatamente os técnicos da Sabesp iniciaram os trabalhos para desviar o esgoto para outros interceptores.

“Os engenheiros da Sabesp estão conduzindo muito bem os trabalhos para resolver a questão do saneamento na região”, avalia Paulo Ferreira, presidente do Instituto de Engenharia de São Paulo (IE). “Mesmo sendo um fato de certa complexidade, os engenheiros da Sabesp são altamente competentes e contam com tecnologia e conhecimento para encontrar as melhores alternativas e fazer um bom encaminhamento para a questão, como estamos podendo acompanhar ao longo desses dias”, acrescenta.

Segundo ele, a trepidação causada pelo equipamento conhecido como o tatuzão, usado para a abertura dos túneis do Metrô, é uma das hipóteses da causa do acidente. “Mesmo com uma avaliação de risco, quando se faz uma obra linear de grande porte, em uma cidade como São Paulo, acidentes desse tipo podem acontecer”, salienta. Por isso, ele comenta que a primeira providência que deveria ter sido feita pela empresa responsável pela obra, para evitar esse tipo de acidente, era buscar verificar a interferência do interceptor da Sabesp, que era absolutamente previsível na região, pois é o local onde passam as linhas de intercepção para não cair esgoto nos córregos.

Para Paulo Ferreira, o pano de fundo desse acidente é que com o começo das obras seriam criadas envoltórias de modificação do solo em torno do interceptor, que poderiam criar vulnerabilidades. “O fato de que houve a intercorrência da obra do metrô com o interceptor está muito claro, por isso não devemos procurar culpados, mas imediatamente, como está sendo feito, consertar o problema. E, certamente, a perícia vai esclarecer o que de fato aconteceu”, informa.

Na mesma linha, José Antonio Faggian (na foto), presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), tanto a competência técnica dos Engenheiros da Sabesp quanto dos Engenheiros do Metrô estão sendo fundamentais na solução do caso, principalmente pela experiência que acumularam ao longo do tempo em obras deste tipo. “A comprovação dessa experiência está no baixo número de acidentes ou quase nenhum acidente registrado em obras dessa magnitude”, considera.

Faggian, que é biólogo, contou que tem conversado com diversos especialistas da área ambiental e de geologia, e, cada vez mais, confirma a questão de que faltou um estudo de análise de risco mais aprofundado por parte da empresa privada, responsável pela obra. “Diante desse acidente, é fundamental que esse tipo de trabalho continue sendo prestado pelo poder público dentro da ótica de realmente prestar um serviço à população com qualidade e os devidos cuidados da segurança do trabalho e meio ambiente. Caso o poder público não possa prestar integralmente o serviço, que pelo menos haja fiscalização efetiva dos órgãos responsáveis para evitar esse tipo de situação”, salienta.

Agora, que começaram os trabalhos da perícia, Faggian destaca que é fundamental que seja esclarecido o que de fato aconteceu e esse debate chegue até a sociedade, para que haja um melhor entendimento e que os verdadeiros culpados pelo acidente sejam responsabilizados. “Que eles possam ressarcir de maneira adequada à população paulista e que esse debate sirva para evitar que venhamos a sofrer com acidentes deste tipo no futuro”, conclui.

A importância da análise de risco

O especialista avalia que a engenharia brasileira tem condições de desenvolver projetos deste tipo com alta qualidade. “A questão é desenvolver o projeto executivo com muita consciência do que está sendo feito, pois o risco e a análise de risco são inerentes em qualquer projeto de engenharia”, explica e, acrescenta: “analisando o porte das obras do metrô e das obras da Sabesp o número de acidentes são muito pequenos, o que indica que a gestão de risco é bem encaminhada pelos profissionais das empresas”.

A expectativa é que as ações para o conserto sejam agilizadas e a obra possa ser tocada sem causar mais atraso e prejuízos para a sociedade. “Analisada a causa, o tipo de ruptura e porque isso aconteceu, vamos consertar e tocar a obra pra frente. Essa etapa vai exigir um método construtivo melhor no reparo e, em minha opinião, se não precisar abrir a vala é muito melhor para o interceptor e restabelece mais rápido sua operação. As duas obras são importantes para a cidade e a Engenharia brasileira tem condições de resolver o problema com técnica e eficácia”, conclui.

O novo presidente da Associação dos Engenheiros da Sabesp – AESabesp, Luciomar Santos Werneck,expressa que, sem dúvidas, a competência técnica da Sabesp, por meio de seus profissionais, ficou evidenciada quando prontamente conseguiram desviar todo fluxo do ITi-7 para o outro interceptor. “Demonstração  de uma organização, agilidade e gestão de ativos. Embora o interceptor antigo não estivesse em operação  há dois anos seu estado de conservação permitiu sua reutilização sem comprometimento do meio ambiente, ou seja, despejo do esgoto ‘in natura’ diretamente no Rio Tietê”, explica.

Como sabespiano, Luciomar ressalta seu orgulho em fazer parte desse time e como cidadão se sente agradecido pelo não comprometimento do rio Tietê. “Por outro lado, ainda aguardo as conclusões  das análises, pois ainda me sinto incomodado com a causa do rompimento do interceptor da Sabesp. Esse estava em operação há dois anos e até então nada havia ocorrido”, observa.

O presidente da AESabesp informa que nos últimos anos, por conta da nova legislação de licitações, tem tomado consciência da importância de uma análise de riscos antes do início de qualquer novo empreendimento. “Esses riscos não devem levar em consideração apenas o empreendimento, mas todo ciclo de vida do projeto, incluindo suas interfaces”, orienta.

Fiscalização contínua

Para dirimir as dúvidas sobre as informações acerca do rompimento da coletora de esgoto da Sabesp na obra do Metrô e para propor mais fiscalização e prevenção de acidentes no Metrô de São Paulo, em resposta à sociedade, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), realizou uma audiência pública, no formato virtual, dia 9 de fevereiro, com a participação de engenheiros, vereadores, técnicos e sindicalistas.

O Engº Murilo Pinheiro, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP) e da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), foi um dos presentes na audiência. “Temos debatido o assunto com engenheiros especialistas com larga experiência em empreendimentos do gênero, e tudo indica que um cuidado imperativo seria manter distância muito maior entre o shield e o interceptor da Sabesp, cuja presença era de pleno conhecimento dos responsáveis pela obra. Além disso, a galeria poderia eventualmente ter sido reforçada com injeção de cimento, tubo de aço ou estacas de raiz. Mas nada disso foi feito, pelas informações disponíveis até agora, ocasionando um desastre lamentável”, declara.

O engenheiro destaca que na competência, experiência, conhecimento e compromisso com o bem-estar público dos engenheiros das empresas envolvidas, reside a expectativa de correção do problema e retomada plena da obra de forma segura o mais rapidamente possível. “Mas é preciso que haja aprendizado a partir desse episódio. Esses técnicos não podem ser chamados apenas para apagar o incêndio, devem atuar no acompanhamento e fiscalização de empreendimentos do gênero que, ainda que sejam concedidos à iniciativa privada, são de interesse público. A população de São Paulo deve poder contar com o trabalho desses quadros fundamentais ao seu bem-estar”, salienta.

Diante do ocorrido, Murilo Pinheiro, avalia que a expansão da infraestrutura urbana no Estado de São Paulo é tarefa a ser cumprida pelo governo com planejamento, fiscalização e foco absoluto no interesse da população. Segundo ele, ainda que as PPPs sejam a opção para determinados empreendimentos, cabe à gestão pública o rigoroso acompanhamento para garantir qualidade e segurança. “E isso começa pelos contratos de concessão que não podem deixar a empresa contratada agir a seu bel prazer sem fiscalização e passa pelo criterioso exame técnico do que está sendo feito. E aí a Engenharia tem papel fundamental, mas para que possa contribuir precisa ser incluída e ter protagonismo; há que se valorizar o conhecimento técnico”, ressalta.

Para o especialista, este acidente lamentável nas obras da Linha 6 reforçam uma proposta que a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) vem fazendo por meio do seu projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, que é a criação de Secretarias de Engenharia de Manutenção. “Basicamente, sugere-se que haja nas três esferas administrativas – municípios, estados e União – órgãos cuja função seja atuar na prevenção e correção de problemas de estruturas, edificações, vias, frotas, redes, instalações e demais bens físicos estatais, assim como daqueles a cargo da iniciativa privada, mas com função pública. Isso propiciaria segurança e qualidade de vida à população, além de bom uso dos recursos públicos”, aponta.

Resposta à sociedade

A presidente da Associação dos Engenheiros do Metrô – AEAMESP, Sílvia Cristina Silva, avalia que nesse momento, sobre o acidente que envolveu as obras de metrô da Linha 6 e a Sabesp só pode lamentar e dar graças à Deus por não ter tido vítimas. “Todos nós trabalhamos para que nada aconteça e nesse caso, sem ter os projetos ou acompanhar as obras, pois somente os profissionais autorizados pela empresa é que tem acesso, tudo o que eu disser serão opiniões, que nesse momento, sem levantamentos detalhados, seria uma leviandade de minha parte”, considera.

Para ela, o Governo deve formar um comitê para avaliação do caso. “Tenho certeza será composto por técnicos do mais alto gabarito para que seja feita uma análise responsável e sobre fatos. A contratação do IPT para análise do fato é bem-vinda, pois se trata de entidade da mais alta credibilidade”, destaca.

Fonte: AESabesp (Associação dos Engenheiros da Sabesp)