Home Destaque De olho na rentabilidade dos investimentos, crise hídrica entra no radar dos...

De olho na rentabilidade dos investimentos, crise hídrica entra no radar dos agentes financeiros

O jornal Valor Econômico publicou em 7 de novembro o editorial intitulado “Crises hídricas entram no radar das autoridades financeiras”. O texto, que à primeira vista parece demonstrar preocupação com o agravamento dos eventos climáticos e suas consequências sociais, revela, na verdade, uma velha lógica: a de tratar a água — e as crises hídricas — como questão de interesse do mercado, e não da população.

Ao abordar o tema sob a ótica dos “riscos financeiros” e das “oportunidades para investidores”, o editorial escancara a inversão de valores que marca o modelo de privatização da Sabesp. A preocupação central não é garantir o acesso à água e ao saneamento como direitos fundamentais, mas proteger a rentabilidade dos acionistas diante das instabilidades climáticas e das pressões sobre os recursos hídricos.

Veja também – Sintaema destaca importância do Dossiê do Clima e defende justiça socioambiental em SP

Esse é o retrato do que o Sintaema vem denunciando desde o início da ofensiva privatista há mais de 4 décadas, com uma versão ainda mais violenta sob Tarcísio de Freitas: a transformação de um bem essencial à vida em ativo financeiro.

Sob o comando do governo Tarcísio, o que deveria ser uma política pública de abastecimento e saneamento virou campo de especulação, submetido às lógicas de mercado e às exigências de rentabilidade.

O resultado é previsível: tarifas mais altas, serviços precarizados e exclusão das populações mais vulneráveis. Enquanto o Valor fala em “eficiência” e “adaptação financeira”, as periferias vivem o racionamento, os bairros populares enfrentam interrupções e a água, que deveria ser direito, torna-se privilégio.

A crise hídrica não é uma abstração para o sistema financeiro, mas também não é — nem pode ser — uma oportunidade de negócio. É um alerta sobre os limites de um modelo que coloca o lucro acima da vida e o capital acima do interesse público.

Para o Sintaema, enfrentar as crises hídricas passa por fortalecer o papel do Estado e das empresas públicas de saneamento, planejar o uso racional e sustentável da água e garantir a gestão pública e democrática dos recursos naturais. É o oposto do que defende o mercado financeiro e dos que, como o Valor Econômico, enxergam na crise uma chance de especulação.

A água não é mercadoria. É vida — e deve estar sob controle público, a serviço do povo, não dos acionistas.